Carnaval da cidade histórica, realizado pela Prefeitura Municipal de Ouro Preto e Pulsar Brasil presta homenagens a lendas da cidade e relembra antigas intrigas entre moradores
O Carnaval de Ouro Preto é conhecido por ser uma festa já tradicional em Minas Gerais. Neste ano, os organizadores pretendem aproveitar a data para relembrar antigas lendas e até um dos maiores desentendimentos entre vizinhos da história mineira. Conhecidos pela tradicional hospitalidade, os habitantes de Minas guardam uma narrativa antiga e conflituosa entre os moradores da cidade histórica.
No princípio era o Verbo
Há muitas lendas e anedotas sobre os Jacubas e os Mocotós. Segundo a tradição oral, os nomes marcam uma rivalidade entre antigos moradores de dois bairros de Ouro Preto. A briga teve início com a disputa entre qual, dentre os dois bairros da região, inauguraria a maior capela da cidade. Com a grande visibilidade do município devido à abundância de ouro na cidade, desde o século XVIII houve uma proliferação de recursos e de pessoas no local. A contenda ficou estabelecida, então, com os dois lados bem demarcados: de um, a Paróquia de N. S. do Pilar, posterior reduto dos Mocotós, do outro, a Paróquia N. S. da Conceição, futuro reduto dos Jacubas.
Entre Jacubas e Mocotós
No século XIX, com o declínio da exploração de ouro na cidade, diminuição da oferta de alimentos na região da antiga Vila Rica e a mudança da capital para Belo Horizonte, os moradores precisaram inventar formas de sobreviver sem o aporte financeiro das épocas já passadas. Foi assim que os moradores do Bairro Antônio Dias, para conseguirem se alimentar, preparavam um caldo ralo, salgado ou doce, engrossado com fubá. Essa pasta era chamada de Jacuba. Como consequência, os moradores pobres do bairro carregaram o apelido do alimento produzido.
Da mesma forma, no Pilar, conta-se que, naquele período, havia um matadouro onde eram abatidos bois e porcos. Os moradores menos favorecidos daquele bairro usavam as partes desprezadas desses animais, como as canelas e os pés, extraíam o mocotó e faziam dele um caldo. Assim, os habitantes do bairro Antônio Dias os apelidaram de Mocotós. Essa rivalidade por vezes foi levada a sério, sendo, por exemplo, proibida as amizades e os namoros entre os Jacubas e os Mocotós.
A tradição e o Carnaval de Ouro Preto
Neste ano, o tema do carnaval será uma homenagem a essa antiga disputa. Em anos anteriores, a festa já promovia um breve encontro entre os Jacubas e os Mocotós. Na celebração, os bairros saem em bloco pelas ruas da cidade, e o que era rivalidade se transforma em confraternização. Do lado dos Jacubas, há a agremiação folclórica mais antiga do país, o Zé Pereira do Club dos Lacaios, que sai pelas ruas ao som de clarins, taróis, bumbos e promove um desfile de bonecos gigantes: o Catitão, a Baiana e o Benedito. Do lado Mocotó, o bloco é a Bandalheira Folclórica Ouro-pretana, que desfila pelas ruas fazendo uma sátira às bandas marciais: penico na cabeça, papel higiênico a tira colo, traje social e instrumentos variados. Neste ano, portanto, essa rivalidade será a principal homenagem do carnaval.
Quando a rivalidade da festa acaba, a disputa retorna ao meio religioso outra vez: é hora dos preparos para a Semana Santa. De um lado a Paróquia de N. S. do Pilar, reduto dos Mocotós, do outro a Paróquia N. S. da Conceição, reduto dos Jacubas.
O carnaval de Ouro Preto é uma celebração histórica, e a cidade está empenhada em fazer o melhor carnaval dos últimos anos. Felipe Guerra, secretário de turismo do município, conta que a organização está envolvida com a celebração, e espera que tudo seja um sucesso. “Fizemos uma reunião para decidir qual seria o tema e imediatamente pensamos em resgatar uma tradição que vem de séculos. A cidade está muito animada em relembrar suas raízes históricas e espera receber turistas de toda a parte do Brasil”, finaliza o secretário.
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